Na semana passada, a pedido, eu postei aqui algumas informações sobre os principais fatores geradores de ansiedade na adolescência. Neste texto, gostaria de falar sobre como estabelecer uma relação saudável entre pais e filhos adolescentes. Sempre que trabalho com pais e mães, gosto de explorar quatro dimensões com eles
1 - a conexão entre os membros da família;
2 - onde está a saúde;
3 - a relação entre limites, autonomia e continência;
4 - o estilo de comunicação parental.
1 - a conexão entre os membros da família
Por conexão, refiro-me à sensação de realmente entender o que está se passando com o adolescente. Estou falando de empatia, mas não somente dela. A empatia é uma das formas pelas quais é possível encontrar essa conexão. No entanto, a empatia verdadeira é algo difícil de se alcançar e nem sempre conseguimos. Em minha experiência, é comum ver pais e mães tentando compreender a realidade do adolescente usando a perspectiva de um adulto, que, em regra, possui mais ferramentas e bagagem. Ao olhar com os olhos de um adulto, é bem possível que o problema do adolescente pareça menor e menos complexo. A empatia é conseguir alcançar a experiência do adolescente, o que significa olhar para o problema dele com as ferramentas e bagagens que ele possui, com a idade e maturidade que ele possui. Quando fazemos isso, geralmente a conexão aparece.
Como a empatia não é algo fácil de se conseguir a todo momento, existe uma segunda forma de gerar conexão, mesmo que não possamos compreender nossos filhos. Quando a compreensão da realidade do outro não é possível, uma segunda alternativa é o que Carl Rogers chamava de aceitação incondicional positiva. Ela implica acreditar que o outro está sempre fazendo o melhor que pode em um dado momento. Para Rogers, ninguém faz pior quando poderia fazer melhor. Na prática, isso significa dizer que se o outro está com um problema, é porque de fato ele não está sabendo fazer melhor do que aquilo naquele momento, e, portanto, sair dessa condição não é fácil para ele. Pensar assim nos impede de menosprezar a experiência subjetiva dos nossos filhos e nos traz para uma posição de respeito e não julgamento diante da dificuldade deles. Essa postura favorece a confiança e a livre expressão dos nossos filhos, o que, por si só, favorece a conexão e é de grande ajuda para eles.
2 - Onde está a saúde
No psicodrama, entendemos que nossas partes saudáveis dão conta das nossas partes não saudáveis. Por isso, diante desta abordagem, tão importante quanto entender o que está causando o sofrimento, é conhecer onde a pessoa é saudável. Em que papéis e contextos ela se mostra mais potente, criativa e espontânea? Estimular o lado que está "funcionando" melhor na pessoa é uma forma de ajudá-la a encontrar caminhos simbólicos, imaginários e práticos para superar suas dificuldades. Procure observar em quais contextos ou em quais papéis seu filho não demonstra ansiedade ou qualquer outra angústia mais marcada. Agora, é importante destacar que estimular não significa pressionar. Isso pode inclusive levá-lo a abandonar a atividade ou papel que está fazendo bem a ele.
3 - a relação entre limites, autonomia e continência
A adolescência é uma fase que, dentre muitas funções, serve como aquecimento para a vida adulta. Autonomia é algo que os adolescentes desejam e ao mesmo tempo temem. É importante que eles possam exercitar essa dimensão nessa fase de vida, assim como é importante que eles também aprendam a lidar com as limitações impostas pelo meio. Na minha experiência, é difícil encontrar um equilíbrio entre limite e liberdade. Alguns pais, na tentativa de serem "amigos" de seus filhos, os deixam soltos demais. Outros, por medo de possíveis consequências, fecham demais o cerco. No primeiro caso, o adolescente se sente perdido e não importante e isso geralmente produz mais sintomas, como a própria ansiedade. No segundo caso, o que vejo geralmente são dois caminhos: ou o filho começa a se rebelar com mais intensidade, como uma forma de chamar a atenção para o que é importante para ele, ou ele se deprime e se fecha por acreditar que não haja uma saída possível. Uma forma de encontrar um possível equilíbrio entre o que pode e não pode é os pais ou cuidadores identificarem, sempre que possível, onde é possível dar a possibilidade da escolha para o adolescente (e isso é subjetivo de cada casal, não existe um certo e errado universal). Não parece adequado deixar na mão do adolescente decidir se ele frequentará a escola, mas é possível deixá-lo escolher em qual escola ele estudará? Se sim, ótimo, se não, há algo nesse contexto que ele possa escolher, como o período em que ele irá para escola? Agora, um último ponto importante aqui. Nesse exercício de escolhas, seu filho fará escolhas das quais ele provavelmente se arrependerá e talvez você tivesse clareza do desfecho desfavorável antecipadamente. Nessas horas, dizer "eu te avisei" sair quase como uma resposta automática, mas o mais provável é que ela tenha um efeito prejudicial para a relação de vocês. Mesmo sabendo que o desfecho negativo era previsível, para o bem da relação, é importante saber acolher a dor e ajudá-lo amorosamente, a lidar com suas frustrações e extrair aprendizados da experiência. Caso contrário, são grandes as chances de seu filho recorrer a outras pessoas para desabafar, buscar conforto e encontrar ajuda. Você quer isso?
4 - o estilo de comunicação parental
Por fim, sempre que estou ajudando pais e mães a terem uma melhor relação com seus filhos, gosto de investigar como se dá a comunicação no núcleo familiar. Os estilos de comunicação parentais também são fundamentais para estabelecer uma relação de ajuda com os adolescentes (não vou me aprofundar nos estilos mapeados por Diana Baumrind, pois tornaria esse artigo muito longo, em um próximo post abordarei essa questão com mais cuidado). Aqui, falando de forma mais livre, gosto de observar se a forma de comunicação da família tende a buscar quem está certo ou errado e se há real escuta e interesse em entender o outro, suas necessidades e desejos, ou ainda se ela é uma comunicação que consegue ser clara, objetiva e amorosa ou se deixa tudo "muito solto", pouco definido ou é um tanto quanto ríspida.
Bom, acho que em resumo, esse é um mapa de como costumo escutar os pais e mães que me procuram e que talvez possam ajudar de alguma forma outros pais e mães na busca por relações mais próximas e saudáveis com seus filhos. Só que gente, vale lembrar que essas ideias são pensadas com base em uma realidade generalizada e que certamente não se encaixa perfeitamente na sua. Esse texto talvez sirva como ponto de partida ou como inspiração, onde vocês pegam o que faz sentido, modificam como acharem melhor e descartam o que não serve. Esse trabalho é com vocês, mas se quiserem, eu posso ajudar ;-)
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