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Como Usar Metas para Melhorar Seu Desempenho no Tênis (Sem Aumentar Sua Ansiedade)

  • Foto do escritor: Markus Lothar Fourier
    Markus Lothar Fourier
  • 17 de jun.
  • 4 min de leitura

Atualizado: 18 de jun.



Se você é atleta, técnico ou simplesmente alguém que acompanha de perto o mundo esportivo, provavelmente já ouviu a importância de estabelecer metas. Não é novidade que ter um objetivo em mente ajuda a manter o foco, dá motivação e orienta o esforço no treino e na competição.


Mas... será que qualquer meta funciona?


Será que aquela ideia de “quanto mais difícil, melhor” se aplica mesmo ao esporte?


Esse foi o ponto de partida de duas pesquisas interessantes que ajudaram a responder essas perguntas. A primeira, uma revisão sistemática de 2023 (Jong et al.), olhou para como a Teoria do Estabelecimento de Metas (a famosa GST) se comporta na prática esportiva. E a segunda, um estudo mais antigo, de 1999 (Filby et al.), foi direto ao ponto: testou diferentes tipos de metas com atletas de futebol e analisou o que funcionava melhor.


A teoria original da GST parte de uma ideia simples: metas específicas e desafiadoras ajudam a melhorar o desempenho porque aumentam o foco, o esforço e a persistência. E isso funciona muito bem em contextos corporativos, por exemplo. Mas quando levamos essa teoria direto para o campo, para a quadra, a coisa muda um pouco.


A revisão do Jong mostrou que os estudos sobre metas no esporte apresentam resultados bem inconsistentes. Por quê? Porque o esporte tem características únicas. O feedback é imediato (você sabe na hora se marcou o ponto ou não), os atletas já chegam com um nível alto de motivação, e muitas tarefas já são específicas por natureza.


Outro ponto: metas muito difíceis podem gerar frustração. A ideia de que “meta difícil é sempre melhor” não se sustenta no contexto esportivo real. O mesmo vale para metas muito específicas — elas nem sempre superam a clássica “faça o seu melhor”. E combinar metas de curto e longo prazo? Também não mostrou vantagem clara.


Além disso, a fonte da meta também importa. Foi o técnico que definiu? O atleta? Os dois juntos? Isso pode fazer diferença dependendo do estilo de cada atleta — especialmente quando falamos em locus de controle (quanto a pessoa sente que tem controle sobre os resultados).


Mas talvez a parte mais interessante venha do estudo prático com jogadores de futebol. Nele, os atletas foram divididos em grupos com metas diferentes:

  • Apenas meta de resultado (vencer),

  • Apenas meta de processo (focar na técnica do passe),

  • Combinação de resultado e processo,

  • E um grupo com os três tipos: resultado, processo e desempenho (bater o próprio recorde).


E o que aconteceu?

Quem tinha somente metas de resultado foi pior do que o grupo controle (sem meta nenhuma) na hora da competição. Sim, focar só em ganhar prejudicou o desempenho. Os próprios atletas disseram depois que se sentiram pressionados, ansiosos. Já os grupos que combinaram metas tiveram um desempenho melhor — e relataram experiências mais positivas também.

Essa diferença nos leva a uma chave importante: combinar metas pode ser mais eficaz do que seguir um único tipo de objetivo.


Aqui entra também uma ideia muito bem explorada no outro texto: há três tipos principais de meta no esporte:

  • Metas de resultado: como “ganhar o campeonato”. Motivam, mas geram pressão e dependem de fatores fora do seu controle.

  • Metas de desempenho: como “fazer menos de 5 erros não forçados”. São mais mensuráveis e ajudam a monitorar seu progresso.

  • Metas de processo: como “bater cruzado em toda bola”. São as mais eficazes na hora da execução porque te mantêm no momento presente, focado na ação.


O estudo mostrou que usar a meta de resultado nos treinos ajuda a manter a motivação. Mas, na hora da competição, o que faz diferença mesmo é ter uma meta de processo bem clara: ela ajuda a controlar a ansiedade e sustenta a performance sob pressão.


E é justamente aí que muitos atletas de ponta se diferenciam: eles usam os três tipos de metas de forma estratégica. A de resultado como norte, a de desempenho como termômetro e a de processo como guia na hora do jogo.


Talvez o ponto principal seja esse: estabelecer metas no esporte é tanto ciência quanto arte. Não existe uma fórmula pronta. A teoria ajuda a entender, mas o sucesso depende de ajustar as metas ao atleta, ao esporte e ao momento vivido. Menos receita de bolo, mais escuta e sensibilidade.


Fica a pergunta para você que compete, treina ou orienta atletas: qual tipo de meta está guiando sua preparação hoje? E será que está ajudando — ou atrapalhando — na hora da decisão?



Referências


FILBY, William C. D.; MAYNARD, Ian W.; GRAYDON, Jan K. The effect of multiple-goal strategies on performance outcomes in training and competition. Journal of Applied Sport Psychology, v. 11, n. 2, p. 230-246, 1999. DOI: 10.1080/10413209908404202. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1080/10413209908404202.


JEONG, Yoon Hyuk; HEALY, Laura Catherine; MCEWAN, Desmond. The application of Goal Setting Theory to goal setting interventions in sport: a systematic review. International Review of Sport and Exercise Psychology, v. 16, n. 1, p. 474-499, 2023. DOI: 10.1080/1750984X.2021.1901298. Disponível em: https://doi.org/10.1080/1750984X.2021.1901298.


KINGSTON, K. M.; HARDY, L. Effects of different types of goals on processes that support performance. The Sport Psychologist, v. 11, n. 3, p. 277-293, 1997. DOI: 10.1123/tsp.11.3.277. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/285762010.



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Markus Fourier

Psicólogo CRP 06/155904

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