Teatro e Psicologia: quando a arte se torna espaço de transformação
- Markus Lothar Fourier
- 13 de jun.
- 3 min de leitura

Entre 2012 e 2015 fiz uma especialização em psicodrama, uma abordagem que nasceu do teatro e se tornou uma forma de psicoterapia. Desde então, mesmo em atendimentos individuais, procuro usar de certos recursos como forma de ouvir o discurso do corpo, dos gestos e das ações. Vejo, na minha prática, que nem tudo pode ser expressado com as palavras. Por conta disso, vivo pesquisando artigos e trabalhos acadêmicos nessa linha e hoje quero compartilhar um resumo meu de uma tese de doutorado que li recentemente e que investiga os impactos psicológicos em pessoas que trabalham com teatro. A referência completa eu deixei ao final do texto, para quem tiver interesse.
A tese se intitula Entre o Teatro e a Psicologia: Processos e vivências da mudança psicológica em contexto teatral. Essa pesquisa recente explorou justamente essa interseção entre o fazer teatral e a psicologia. Unindo teoria, neurociência, filosofia e entrevistas com atores e diretores, o estudo aponta caminhos interessantes sobre como o envolvimento com o teatro pode influenciar profundamente a forma como pensamos, sentimos e nos relacionamos. Eis os principais achados da pesquisa:
Pensar com mais complexidade
Um dos achados centrais da pesquisa foi que pessoas envolvidas com o teatro tendem a apresentar um estilo de pensamento mais flexível e menos rígido. Em vez de enxergar o mundo em categorias fixas como "certo" e "errado", desenvolvem uma maior capacidade de considerar diferentes perspectivas. Em psicologia, isso é chamado de "complexidade sócio-cognitiva", uma habilidade fundamental para lidar com as nuances da vida.
O teatro parece favorecer esse tipo de amadurecimento justamente por envolver um ciclo constante entre ação e reflexão: viver intensamente uma situação em cena e, depois, pensar sobre ela. Essa dinâmica pode gerar conflitos internos — situações em que a experiência desafia crenças anteriores — e é nesse espaço de confronto que nasce a mudança.
Corpo e emoção: o que vem antes da razão
Outro ponto forte do estudo foi o papel do corpo e das emoções nesse processo. Ao atuar, não se trata apenas de pensar ou falar, mas de sentir e reagir fisicamente. Muitas vezes, o corpo "fala" antes da mente compreender. Essa dimensão não verbal — sensações, impulsos, emoções — ganha espaço no teatro e oferece uma via alternativa de acesso ao que se passa dentro de nós.
Em um mundo que muitas vezes valoriza o racional acima de tudo, o teatro oferece a chance de escutar aquilo que ainda não foi colocado em palavras, mas que já pulsa dentro do corpo.
A transformação pelo olhar do outro
Por fim, o estudo destaca a importância das relações. O teatro é um processo coletivo: exige confiança, escuta, entrega. Atuar é também se deixar afetar pelo olhar do outro — seja ele o colega de cena, o diretor ou o público. Essa exposição cria um ambiente de vulnerabilidade e cooperação que favorece a auto-observação e o desenvolvimento pessoal.
Nesse sentido, o teatro não transforma apenas pela técnica ou pela emoção, mas também
pela experiência relacional intensa que promove.
O que o teatro pode ensinar à vida?
Sem idealizações ou promessas de mudança mágica, o estudo sugere que o contexto teatral oferece condições ricas para o desenvolvimento psicológico. Pode nos ajudar a lidar melhor com a complexidade, a incerteza e a convivência com pontos de vista diferentes. E isso é algo valioso, mesmo para quem nunca subiu num palco. Por isso, em especial nos grupos de terapia, a possibilidade de dramatizar, improvisar e criar com os outros se tornam grandes fatores terapêuticos.
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Referência:
SILVA, José Eduardo Leite Fernandes da. Entre o Teatro e a Psicologia: Processos e vivências da mudança psicológica em contexto teatral. 2013. Tese (Doutorado em Psicologia) – Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação, Universidade do Porto, Porto, 2013.
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