Em busca da escolha perfeita
- Markus Lothar Fourier

- 18 de jul.
- 3 min de leitura

Você está tentando subir a montanha e tomar banho de mar ao mesmo tempo?
Pode parecer só uma metáfora boba, mas, honestamente, é o que eu vejo algumas pessoas tentando fazer com a própria vida.
E não dá.
Ou, pelo menos, não dá tudo ao mesmo tempo, do jeito exato que você imaginou, sem custo, sem conflito, sem frustração.
Tem gente que chega no meu consultório travada. A vida empacada. Nada anda. Mas por que nada anda? Porque toda decisão parece errada? Parece que toda escolha significa perder demais. Então a pessoa para, paralisa. E fica ali, na beira da estrada, esperando aparecer uma opção perfeita. Aquela que concilie todos os desejos de uma vez só.
Ganhar muito dinheiro e trabalhar pouco.
Viver no mato e estar perto de tudo.
Ter tempo para si.
Ter estabilidade e liberdade.
Rotina e aventura.
Risco e segurança.
Velocidade e profundidade.
Paz e agito.
Morro ou mar?
É como tentar pedir um prato no restaurante que seja leve, farto, barato, sofisticado, sem glúten, com gosto de infância e cheiro de viagem. Será que dá?
Essa busca pela escolha perfeita — que Lacan chamaria de Desejo Impossível — costuma ser uma armadilha. Uma armadilha elegante, sedutora, cheia de boas intenções. Mas ainda assim uma armadilha. Porque ela nos convida a um jogo impossível: satisfazer todos os critérios, todos os desejos, em uma escolha só.
E quando isso não é possível — porque, adivinhe, quase nunca é — a gente entra num estado de suspensão.
Sabe aquela sensação de estar com o pé no freio e no acelerador ao mesmo tempo?Exatamente isso.
E o pior: como estamos esperando a opção mágica aparecer, não escolhemos nada. Só vamos deixando a vida passar, acumulando ansiedade, frustração e, às vezes, até uma certa vergonha de não estar conseguindo "resolver a própria vida".
Então deixa eu te contar uma coisa meio óbvia, mas que às vezes precisa ser dita com todas as letras: escolher dói, é difícil.
Toda escolha envolve perda.
Todo caminho tem um pedágio a se pagar.
Toda decisão implica deixar algo para trás.
Não porque a vida é cruel. Mas porque ela é limitada. E a gente também.
E não, não estou dizendo que é impossível ter uma vida boa, equilibrada, com tempo para você, dinheiro suficiente, e um certo prazer no cotidiano. Claro que dá. Tem gente que consegue. Mas geralmente, sabe como? Depois de anos trabalhando muito, ganhando pouco, abrindo mão de coisas, experimentando, errando, recalculando rota.
Nunca conheci alguém que, do nada, encontrou o atalho dourado: muito dinheiro, pouco esforço, liberdade total e tempo de sobra. No Instagram parece que tem. Mas na vida real, nunca vi.
Então talvez a pergunta mais honesta não seja "qual é a escolha perfeita? "Mas sim: "Quais perdas eu estou disposto a bancar?" "O que, entre tudo o que desejo, é de fato essencial para mim agora?" "Do que eu topo abrir mão, apesar da tristeza ou desconforto?"
Esse movimento de abrir mão é difícil. Tem luto aí. Tem dor. Mas tem também um alívio. Porque quando a gente para de esperar o combo impossível, começa a andar.
E andar é melhor que esperar por um trem que talvez nem venha.
Fica aqui meus cinquenta centavos de contribuição e meu convite à reflexão. Se você sente que está travado, repare se não está tentando tomar banho de mar no alto da serra.
E tudo bem querer muito. O problema é querer tudo — já, junto, fácil — e esperar que o mundo se dobre ao seu desejo.
A vida, com frequência, exige negociação.
E às vezes, quando a gente aceita isso, ela geralmente nos dá algo bom o suficiente em troca.



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