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Sua bateria social se esgota rápido?

  • Foto do escritor: Markus Lothar Fourier
    Markus Lothar Fourier
  • 21 de ago.
  • 2 min de leitura

Nos últimos anos, tenho escutado com frequência, tanto de pacientes quanto de colegas, a expressão “bateria social” — essa sensação de que a energia para lidar com interações sociais se esgota muito rápido. Não me parece que isso fosse uma queixa tão comum algumas décadas atrás, mas hoje aparece com bastante regularidade na clínica.


Ao refletir sobre isso, lendo a respeito e investigando junto aos pacientes, percebo que, em muitos casos, por trás dessa queixa existe, de forma inconsciente, uma crença de que socializar significa performar. Como se cada interação fosse uma espécie de exercício de desempenho, custoso e desgastante emocionalmente.


Essa lógica da performance não costuma ser explícita nem consciente, mas aparece com força em diferentes relatos, especialmente nos de ansiedade. A ideia subjacente é a de que “não basta ser quem eu sou”, de que é preciso ser diferente, mais, menos ou melhor. Daí surgem o peso emocional e a ameaça: e se eu não conseguir corresponder ao que acredito que deveria ser? E se eu tiver de lidar com as consequências de não atender a essa expectativa?


Esse modo de pensar se conecta com a cultura em que estamos inseridos — uma cultura que constantemente estimula o “ser mais”, “render mais”, “destacar-se”. É muito comum ouvir pacientes falando do medo de serem “medíocres”, ou seja, de estarem apenas na média. Estar na média, para muitos, é amedrontador. Entendo de onde vem isso: a lógica capitalista valoriza quem se destaca, e de fato ganhar mais pode significar conforto e segurança.


Mas não quero me deter apenas na crítica à cultura. Embora questioná-la seja importante, trata-se de um processo lento, de longo prazo. Enquanto isso, é fundamental olharmos também para a nossa parte, para os “50%” que cabem a cada um. Afinal, nem todas as pessoas expostas à mesma cultura reagem do mesmo modo. Existe um espaço subjetivo, um grau de autonomia em como escolhemos lidar com o que nos atravessa.


Por isso, penso que o ponto central é: de que forma estamos nos relacionando com essa lógica que nos convida constantemente à maximização? Quando alguém percebe que sua “bateria social” se esgota rápido ou que a ansiedade aparece nas interações, talvez seja útil se perguntar: será que isso está ligado à necessidade de performar? À sensação de que eu preciso ser algo diferente do que sou? Entendo que performar, em certos contextos seja necessário, mas algumas pessoas parecem sentir essa necesidade mesmo entre amigos ou em contextos sociais e de lazer.


Esse convite à reflexão, claro, não se aplica a todos os casos. Mas para algumas pessoas pode fazer bastante sentido.

Uma pessoa cansada segurando uma máscara sorridente.
Uma pessoa cansada segurando uma máscara sorridente.

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Markus Fourier

Psicólogo CRP 06/155904

R. Havaí, 78 - Sumaré, São Paulo

Daimon - Centro de Estudos de Relacionamento

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