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Markus Lothar Fourier

Somos todos Dons Quixotes

Atualizado: 6 de ago.

"Não existe nada mais profundo e poderoso que este livro. Representa até hoje a mais grandiosa e acabada expressão da mente humana. Se o mundo acabasse e no além nos perguntassem: Então, o que você aprendeu da vida? Poderíamos simplesmente mostrar o D. Quixote e dizer: Esta é a minha conclusão sobre a vida."

Esta é a opinião de Dostoiévski sobre a obra de Miguel de Cervantes, Dom Quixote.


Se você ainda não leu a epopeia de Hidalgo Don Quixote de la Mancha, fica aqui a sugestão, pois, no fundo, somos todos um pouco Dons Quixotes. Assim como o cavaleiro errante, todos enxergamos a vida e seus eventos, com contaminações do nosso mundo interior. Dito de outra forma, todos nós, volta e meia, deliramos, acreditamos que certas coisas foram feitas para nós ou contra nós, acreditamos que algumas pessoas são boas ou más, quando, na verdade, tudo é apenas uma sequência de fatos aleatórios. Somos nós que estabelecemos sentidos de forma arbitrária, de acordo com nossos desejos, vontades, e outros sentimentos e crenças. Se existe alguma intencionalidade ou consciência maior regendo o universo, com certeza ela não está arquitetando as coisas para nos favorecer ou prejudicar.


Costumo comparar a vida a um jogo de ligar pontos, onde os pontos são dispostos aleatoriamente, sem intuito de formar uma imagem específica.

No final, o modo como cada indivíduo conecta os pontos revela mais sobre si mesmo do que qualquer outra coisa. É como Freud afirmava: "quando Paulo fala sobre Pedro, aprendo mais sobre Paulo do que sobre Pedro."


Nosso papel, como terapeuta, nesse sentido, é ajudar a pessoa a perceber que o moinho é só um moinho e não um inimigo gigante. Parece simples ao refletir com esses exemplos inventados, mas quando se refere à nossa própria vida, é complicado acreditar que certas atitudes não ocorreram por destino ou algo similar.


Reconhecer nossos próprios delírios, e a subjetividade com que interpretamos o mundo, é o primeiro passo para uma vida mais consciente e equilibrada. Assim como Dom Quixote poderia enxergar além de suas ilusões para encontrar a verdade, nós também podemos distinguir a realidade das projeções de nosso mundo interior. Mesmo não sendo fácil, essa epopeia particular pode nos fazer evitar algumas frustrações e sofrimentos, já que perseguir miragens e fantasias nem sempre nos leva a desfechos saudáveis.


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