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Markus Lothar Fourier

Você sente que não está vivendo?

Você já teve a sensação de que sua vida está escapando por entre os dedos, ou que o tempo está passando e você não está realmente vivendo? Essas e outras expressões semelhantes surgem frequentemente durante o processo de psicoterapia, geralmente acompanhadas por desânimo, melancolia ou até depressão. Existem várias explicações para essa sensação e sua relação com essas formas de tristeza e desmotivação. Aqui, vou abordar uma dessas possibilidades, que considero bastante relevante e útil para as pessoas que atendo. Escreverei de forma genérica, ciente de que as subjetividades de cada leitor não serão contempladas. Ainda assim, acredito que algumas pessoas se identificarão com o que apresento a seguir e, talvez, isso possa ser útil.


Quando alguém me procura queixando-se de depressão ou de uma condição semelhante, geralmente percebo em suas palavras um descontentamento com o mundo e uma expectativa de como as coisas deveriam ser, que não está se concretizando. É como se a pessoa dissesse: "Não concordo com isso, não está certo, a vida e tudo mais deveriam ser diferentes." A partir desse pensamento, vejo duas formas de enfrentamento. A primeira é lutar para corrigir os erros do caminho. A segunda é sentar e esperar pela mudança. Ambas têm suas limitações e podem levar ao sofrimento. A primeira pode resultar em uma situação de "enxugar gelo", enquanto o mais importante passa despercebido, preso à ilusão de ter que cumprir uma tarefa autoimposta e infindável. Na segunda, é como se a pessoa esperasse por um socorro que nunca chega e, enquanto espera, a vida se torna sem graça e monótona.


A sensação de não estar aproveitando a vida ou de sentir que ela escapa por entre os dedos surge porque ficamos presos a ideais de como as coisas deveriam ser, adotando uma postura de luta ou fuga diante do que não podemos controlar. A atriz Fernanda Torres ilustra bem isso em uma propaganda, ao afirmar que a vida não é apenas o momento em que estamos no show, de frente para o palco, curtindo a música, mas também o que acontece na fila. Se não compreendemos isso, acabamos esperando o show começar para viver e, às vezes, ele é cancelado. Para evitar essa sensação de não viver plenamente, é necessário reconhecer as idealizações e expectativas que temos em relação aos outros e à própria vida. Eu, por exemplo, frequentemente caio na ideia de que, para me divertir, preciso ganhar mais dinheiro, em vez de buscar formas de lazer mais econômicas ou planejar e economizar para realizar certos objetivos.


Quanto ao sentimento de tristeza ou desânimo que geralmente acompanha essas situações, podemos entendê-lo como uma forma de protesto: "Se não é do meu jeito, eu não brinco mais." O problema é que isso acaba nos prejudicando. Somos nós que deixamos de viver. Para concluir, quero fazer um contraponto a uma possível interpretação deste texto. Pode parecer fácil sair dessa armadilha, mas não é bem assim. Primeiro, porque reconhecer nossos ideais não é fácil sem uma boa interlocução e escuta. Muitos dos nossos ideais são facilmente confundidos com mandamentos ou leis imutáveis que não questionamos. Segundo, porque muitos desses ideais foram construídos ao longo de nossa história e servem para nos proteger. Revisar esses códigos internos pode ser doloroso e assustador. Pode nos dar a impressão de que, se eles deixarem de existir, vamos colapsar. As psicoterapias servem para nos apoiar nesses dois processos: identificar nossos ideais e explorar o que os sustenta, de forma segura. Portanto, não se sinta mal por não conseguir fazer isso sozinho. Esse caminho pode ser fácil de descrever, mas não é fácil de trilhar.

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