A ideia de fazer psicoterapia tende a levar certos medos em muitas pessoas. Daquilo que consigo escutar das pessoas que me procuram e de amigos próximos que compartilham comigo suas angústias, somados a algumas pesquisas que fiz, os principais motivos que as levam a evitar esse serviço são:
Preconceitos e estigmas associado à terapia;
Falta de conhecimento sobre o que é a terapia;
Preocupação com o custo financeiro;
Crenças de que a mudança pessoal é algo que deve ser realizado sozinho;
Dificuldade em encontrar um terapeuta confiável;
Falta de tempo na rotina;
Medo da experiência de compartilhar problemas pessoais.
Quero então passar por cada um destes pontos.
1 - Preconceitos e estigmas associado à terapia
A ideia de que as pessoas que procuram ajuda psicológica são fracas ou não conseguem lidar com seus problemas sozinhas é equivocada e estereotipada. Na verdade, procurar ajuda psicológica é uma atitude corajosa e forte, pois reconhece a necessidade de apoio e cuidado para lidar com desafios emocionais e psicológicos. Além disso, é importante lembrar que assim como buscamos ajuda para problemas de saúde física, precisamos de ajuda para cuidar da saúde mental. Todos nós passaremos por momentos complicados em algum momento da vida, que geram muitas emoções e é mais fácil passar por esses episódios com a ajuda de um profissional.
2 - Falta de conhecimento sobre o que é terapia
Praticamente todos os processos de psicoterapia se baseiam no diálogo e na fala. Algumas, como o Psicodrama, incluem também o corpo como uma forma adicional de expressão, mas basicamente, você irá falar sobre o que te incomoda e o terapeuta fará perguntas para entender melhor a situação.
3 - Preocupação com custo financeiro
Infelizmente, o serviço de psicoterapia particular nem sempre é acessível, mas existem alternativas. No Brasil, o SUS oferece serviços de psicoterapia gratuitos e com profissionais qualificados através dos CAPS. Outra opção é buscar por serviços de apoio gratuitos ou de valor social na internet. Hoje, existem muitas ONGs, escolas e coletivos de psicólogos que oferecem serviços a preços acessíveis. Além disso, as faculdades de psicologia oferecem "clínicas escolas", onde você pode ser atendido por estudantes que estão perto de se formar.
Também é possível procurar por grupos de terapia, que costumam ter valores menores do que sessões individuais.
4 - Crenças de que mudanças pessoais devem ser feitas sozinhas
É possível buscar mudanças pessoais sem apoio, mas é pouco provável que essa estratégia traga resultados melhores, mais rápidos e duradouros do que com a ajuda de um profissional qualificado. O treinamento de um psicólogo clínico o habilita para ser uma ajuda valiosa e baseada em evidências científicas. Além disso, quando buscamos ajuda profissional e nos comprometemos com um processo terapêutico, tendemos a nos manter mais motivados e resilientes.
5 - Dificuldade em encontrar um terapeuta confiável
Existem duas formas básicas para encontrar um bom profissional: pedir indicações de pessoas de confiança que já fizeram psicoterapia ou buscar na internet, em sites especializados como o Doctoralia, por exemplo. Nessa plataforma, é possível pesquisar e filtrar profissionais de acordo com suas preferências e encontrar informações sobre suas formações e experiências. É importante verificar se o psicólogo possui registro no Conselho de Psicologia, pois isso significa que ele está comprometido com o código de ética da categoria.
Aqui, quero ainda adicionar uma dica para se certificar de que o profissional é confiável e capaz de te ajudar. Procure descobrir ou até mesmo perguntar diretamente se o psicólogo em questão (1) também faz terapia; (2) supervisiona seus próprios casos com colegas ou profissionais mais experientes; e (3) se ele mantém uma prática de estudo contínua. Este é o tripé de todo psicólogo clínico comprometido com sua profissão.
6 - Falta de tempo na rotina
Apesar das rotinas atribuladas, é provável encontrar um bom profissional dentro da sua disponibilidade. O número de psicólogos clínicos está crescendo e, com isso, a oferta de horários também aumenta. Tenho amigos que começam a atender as 5h30 da manhã e outros que encerram suas atividades, as 23h30. Além disso, as tecnologias e a internet permitem atendimentos por videochamadas, sem precisar se deslocar.
7 - Medo da experiência de compartilhar problemas pessoais
Algumas pessoas acreditam que ao compartilhar problemas pessoais podem ser julgadas, criticadas ou sentir um desconforto emocional muito grande. Como psicólogo, posso atestar que, ao nos aprofundarmos na complexidade do ser humano, adquirimos a compreensão de que ninguém faz coisas ruins ou erradas por ser uma pessoa ruim. Existem apenas atitudes ruins, resultantes de aprendizados equivocados ou incompletos, que prejudicam as pessoas ou a nós mesmos. Esses aprendizados são adquiridos principalmente nos primeiros anos de vida, com as pessoas importantes para o nosso desenvolvimento. Em resumo, você jamais será julgado por um psicólogo se ele tiver uma formação adequada e estiver fazendo o tripé da clínica, que citei acima.
Sobre o segundo ponto, é verdade que, por vezes, relembrar certos acontecimentos ou investigar questões da vida pode trazer emoções intensas e desconfortáveis. No entanto, é melhor tratar o problema do que ignorá-lo. A terapia oferece o espaço e o profissional adequado para cuidar desses sentimentos, sempre no seu ritmo e sem qualquer tipo de pressão. O que é melhor, mexer no que está incomodando, ainda que dor se intensifique por um período, ou ficar com um desconforto moderado sem previsão de alívio? Será que você deve ter medo de fazer psicoterapia ou de não fazer psicoterapia?
Vale lembrar que, se você estiver com um profissional competente, ele respeitará o seu ritmo e você só falará sobre o que sentir que está pronto. O ritmo é seu, você está no controle deste processo.
Bom, espero ter ajudado você a refletir sobre estes pontos e te encorajado a buscar ajuda se esse é o seu caso.
Até a próxima.
Fontes Pesquisadas
Evans-Lacko, S., Brohan, E., Mojtabai, R., Thornicroft, G., & Karekla, M. (2009). Stigma as a barrier to recovery: meta-stigma in the experiences of people with mental illness. Journal of Mental Health, 18(6), 513-527.
Dowd, B. J., Zhou, J., & Zivin, K. (2015). Out-of-pocket spending on mental health care in the United States. Health Affairs, 34(2), 311-317.
Helzer, J. E., Kraemer, H. C., & principally the NIMH Epidemiologic Catchment Area (ECA) Study Group. (2010). Determinants of utilization of mental health services in the general population: implications for the demand for care. Journal of Clinical Psychology, 66(10), 1035-1052.
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